Em 2021, cerca de 29,6% da população brasileira tinha renda domiciliar per capita de até R$ 497 mensais. Isso corresponde a 62,9 milhões de pessoas. Trata-se do o maior número de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza desde o começo da série histórica, iniciada em 2012.
Além disso, esse número representa aumento de 9,6 milhões em relação a 2019. Os dados foram apresentados no Mapa da Nova Pobreza, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas Social (FGV Social). A pesquisa completa pode ser lida no site https://cps.fgv.br/MapaNovaPobreza.
Em entrevista à Agência Brasil, o diretor da FGV Social, Marcelo Neri, comentou sobre os dados. Ele disse que o cenário foi impactado por crise em cima de crise. Uma delas, como esperado, foi causada pela pandemia. Segundo ele, ao longo da crise sanitária, o nível da ocupação no mercado de trabalho sofreu grande impacto. Especialmente nesse campo, observou-se uma queda enorme, representando um choque nunca visto antes nas séries.
O professor comentou que o Benefício Emergencial para Preservação do Emprego e da Renda (BEm) amorteceu parte do impacto. Mesmo assim, o que houve queda significativa da ocupação. Apesar de recentes notícias sobre a recuperação do emprego, a renda média continua em declínio. Neri acrescenta que isso ocorre devido ao grande aumento da informalidade. E mesmo a recuperação do emprego é minimizada, em termos sociais, devido à alta da inflação.
“A ocupação já voltou, a gente tem tido boas notícias de desemprego em queda, emprego formal em alta, já recuperando todas as perdas da pandemia. São excelentes notícias, mas elas acabam sendo dominadas, quando se computa tudo em ocupação e se leva em conta o salário das pessoas, a renda dos trabalhadores por conta própria e informais”, diz Neri.
“É verdade que teve uma recuperação de ocupação, desemprego já estava cedendo e continua cedendo em 22, só que a inflação alta acaba corroendo a renda das pessoas no mercado de trabalho”, completa.
Auxílio Emergencial
Neri também falou à Agência Brasil sobre o papel do auxílio emergencial durante a crise da pandemia. Segundo ele, o pagamento do auxílio fez com que a pobreza caísse ao nível mínimo. Mas, mas com a interrupção do benefício, o indicador voltou a subir.
Além disso, cita que na passagem do Auxílio Emergencial para o Auxílio Brasil, mais de 20 milhões de pessoas ficaram excluídas. Muitas delas sem qualquer renda, seja laboral, seja benefício do governo.
“Quem estava no programa teve um grande benefício, mas teve as pessoas que saíram e a pobreza reflete essa flutuação da política social, que é ruim para o bem-estar da população. Esse é o segundo grupo de efeitos”, concluiu Neri.
Distribuição geográfica
O estudo também analisou a composição geográfica da pobreza no Brasil. Assim, fica claro outro grande problema: uma gritante desigualdade regional no país.
Santa Catarina foi o estado com a menor taxa de pobreza em 2021 (10,16%). Já a maior proporção de pobres estava no Maranhão (57,90%). Entre os 146 estratos espaciais segmentados na pesquisa, o litoral e a Baixada Maranhense foram os de maior pobreza em 2021 (72,59%). Do lado oposto, o menor índice de pobreza foi o município de Florianópolis (5,7%).
Na avaliação por unidade da federação, entre 2019 e 2021, o maior avanço da pobreza se deu em Pernambuco (8,14 %). Depois vêm Rondônia (6.31 %) e do Espírito Santo (5,92 %). Conforme o estudo, só houve quedas de pobreza em 2 dos 26 estados, mais Distrito Federal. Elas foram observadas em Tocantins (0,95 %) e no Piauí (0,03 %).
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