A fome no Brasil voltou a patamares registrados pela última vez nos anos 1990. Os dados apareceram no 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19. Eles foram lançados nesta quarta-feira, 08/06. É possível conferir essas estatísticas no site www.olheparaafome.com.br/.
Em 2022, são impressionantes 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer no País. Isso equivale a mais de 15% da população. Comparativamente, são 14 milhões a mais do que no ano passado, o que mostra que houve uma piora mesmo com relativa melhora da situação da pandemia.
Além disso, a nova edição da pesquisa mostra que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com algum grau de insegurança alimentar. Essa situação de insegurança alimentar é dividida em leve, moderada ou grave, para fins estatísticos.
A pesquisa anterior, de 2020, mostrava que o Brasil regrediu, em termos de avanço da fome, a patamares pré-2004. Naquele contexto, o Brasil estava em vias de erradicar a fome estrutural do país, saindo do chamado Mapa da Fome. Com as estatísticas de 2022, o Brasil está a patamares idênticos aos do início da década de 1990. Naqueles anos, recém saídos da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), o Brasil enfrentava décadas de hiperinflação. Além disso, quase que inexistiam políticas sociais de transferência de renda ou combate à pobreza, instituídas pós Constituição de 1988.
Causas do avanço da fome nos quatro últimos anos
Especialistas que participaram do levantamento apontam para algumas das razões que levaram a esse lamentável quadro social no Brasil. O primeiro deles é o desmonte de políticas públicas por parte do governo. O fim do Bolsa Família e não abrangência suficiente do Auxílio Brasil são um exemplo disso.
Da mesma maneira, desde o governo Michel Temer (2016-2018) o país fez a temerária opção de abrir mão dos estoques de grãos, que serviam para controle de preços de alimentos. Sem eles, os preços dispararam, afetando a população mais pobre.
Outra razão é o agravamento da crise econômica e o acirramento das desigualdades sociais. O Brasil vem atingindo recordes de informalidade e trabalho precarizado desde a reforma trabalhista de 2017. Isso ajudou numa substantiva diminuição da renda da população, de lá pra cá. Juntamente a isso, a concentração de renda nas mãos do 1% mais rico veio na contramão da crise, aumentando a disparidade social.
Por fim, o segundo ano da pandemia foi importante para a piora do quadro. Os números indicam isso. Em 2021, o número de brasileiros que não tinham o que comer era de 19 milhões. Em 2018, eram 10 milhões.
Famílias com crianças: as mais afetadas
Em pouco mais de um ano, a fome dobrou entre as famílias com crianças menores de 10 anos de idade. Em 2020, 9,4% dessas famílias passavam por dificuldades para ter o que comer. Esse númermo disparou para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares.
Elisangela Monteiro – Professora – Entusiasta da Blogosfera!!